segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
sexta-feira, 8 de janeiro de 2016
terça-feira, 5 de janeiro de 2016
Féretro
“Não
derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.”
Em pálpebra demente.”
Álvares de Azevedo
O Começo do Fim :
Morri, por fim morri. Meu corpo jaz enrijecido.
Em cima de uma fria cama, morbidamente esquecido.
Descoberta :
Passaram-se seis dias até descobrirem o prêmio arqueológico:
Um corpo sem vida, que somente acharam pelo cheiro, lógico.
Providências :
Os bombeiros chegaram e me carregaram pra longe do povo.
Se aglomeravam, em vão buscavam algo de novo.
Curiosidade :
Um bando de gente com mente latente
ficava na frente: "Que nojo!", disseram.
Eu me perguntando, vendo o bando
Num canto pensando: "Por quê que vieram?"
Estado :
Trataram os impostos sobre o lugar que eu iria ocupar:
Nem mesmo os mortos deixam de ser questão pra lucrar!
Velório :
Eu estava vivo: me humilhavam... mal me enxergavam,.
Quase passavam por cima de mim!
Meu corpo estendido: se importavam... e lamentavam,
Como choravam por cima de mim!
Funeral :
Já no caixão, me levaram ao chão pra me enterrar.
E pra minha dor, um último horror:
Um Padre à rezar!
segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
O Dicionário
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Caros amigos extra-terrestres:
Com o intuito de tornar mais cômoda a estadia de vocês nesse nosso planeta (que chamamos de Terra, apesar de ter muita água), elaborei um pequeno dicionário, tentando explicar o modo de vida atual dos humanos. E tudo muito simples. Comecemos, pois, do começo:
Dicionário é um livro que explica o significado de algumas palavras com outras palavras, e essas outras palavras com outras palavras parecidas. Ou seja, acabam não explicando nada de fato. Geralmente os dicionários são feitos por pessoas que passam anônimas.
Pessoas anônimas são humanos que não são muito conhecidos entre outros humanos. É o oposto de uma celebridade.
Celebridade é um humano que se esforça a vida inteira pra ser bastante conhecido, e que depois de conseguir, se disfarça nas ruas pra não ser reconhecido. Celebridades possuem muito dinheiro.
Dinheiro são metais ou papéis com números, ou apenas números virtuais numa conta de banco, que indicam quanto de "algo" um humano tem. Esse "algo" é sempre um nome: Dólar, Euro... mas nada além disso. Um humano troca esses nomes por outras coisas, ou por outros nomes. Quanto maior o número, mais trocas ele pode fazer.
Números são os algarismos de 0 a 9. chegam no máximo até o 10 e depois disso ficam se repetindo. Os humanos gostam bastante dos números. Quando vocês conversarem com um humano, ele vai falar muitos números. Ele vai dizer que tem tal idade, nasceu no dia tal, mora na rua tal em tal apartamento; que trabalha no andar tal e ganha tanto de dinheiro, que são tal horas e que está atrasado.
Horas são como os humanos dividem o tempo para viver. Dividiram o dia em 24 horas, uma para cada parte da Terra. As horas são a única coisa que uma área da Terra tem que uma outra área não quer tomar pra ela. Os humanos costumam dizer que só a Morte não tem hora pra chegar.
Morte é um evento geralmente desagradável que acontece em algum momento na vida de um humano, fazendo com que ele deixe de viver, passando a ser um morto.
Morto é um corpo sem vida, que não pode se manifestar de nenhuma maneira. Mesmo assim, os humanos não gostam muito ds mortos: mal acham um e ficam bem nervosos. Depois, queimam ou enterram ele bem fundo pra nao verem mais ele. Eventualmente, alguns mortos são lembrados como heróis.
Herói é um humano que não teve tempo de fugir de um perigo que iria prejudicar outros humanos. Coube à ele, portanto, resolver o problema. Também pode ser um inocente injustamente transformado em morto: depois de muito tempo, classificam o morto como herói inocente pra redimir o erro.
Inocente é um humano quando todos concordam em não culpar ele de nada. Os inocentes se dividem entre heróis, vítimas e mártires.
Mártir é um humano inocente que se tornou celebridade depois de uma Morte em público.
Público é um grupo de muitos humanos que ficam prestando atenção num evento ao mesmo tempo, todos parados no mesmo lugar. Acidentes com automóveis costumam ter bastante público.
Automóveis são estruturas mecânicas de metal sobre rodas, que os humanos utilizam para economizar tempo, chegando mais depressa nos lugares onde querem ir. Um automóvel toma muito tempo e dinheiro de um humano com reabastecimentos, reparos e consertos.
Consertos são adaptações feitas em coisas estragadas, quando um humano não possui dinheiro suficiente pra comprar um exemplar novo dessa coisa. Se precisarem consertar algo, procurem um humano pobre: eles sabem consertar várias coisas.
Pobre é um humano que não consegue acumular muito dinheiro e que não possui muitas coisas. Dividem-se em desempregados e explorados.
Explorado é um humano empregado em serviços geralmente desgastantes, em que tudo que produz não é para ele, e sim para os ricos donos dos meios de produção. Também são pobres que trabalham em serviços braçais, que por serem braçais são menos valorizados. Um pobre geralmente se esforça mais que um rico, e ganha menos dinheiro que ele.
Rico é alguém nascido de pais ricos, que também nasceram de pais ricos, pais esses que trabalharam muito pra se tornarem ricos ou exploraram pobres, pra então passar o dinheiro pros filhos. Por esses motivos os ricos mantém distância dos pobres. Humanos ricos não costumam consertar suas coisas: eles compram um exemplar novo, e as coisas usadas se tornam lixo.
Lixo é tudo o que os seres humanos abandonaram, tudo que é imprestável para eles, tudo que polui ou pode causar mal à outros seres. É o que o ser humano mais produz na Terra. Alguns pobres vivem do lixo, procurando várias coisas pra consertar e trocar por dinheiro.
Coisa é uma palavra genérica que os eruditos desprezam, utilizada para indicar qualquer objeto ou substantivo, independentemente do seu significado.
Significado é algo dado às palavras pelos dicionários...
domingo, 3 de janeiro de 2016
sexta-feira, 1 de janeiro de 2016
Feliz Ano Velho
(Texto que republico todo ano...)
2019. As memórias e pantomnésias do querido e esplendoroso natal continuam vivas, pululando, saltitando radiantes, entre champanhes e presentes materiais trocados pelos familiares. Na grande e luxuosa ceia, famílias abastadas comeram perus covardemente assassinados aos montes, em escala industrial, estendidos nas mesas. Eles ainda estão a lembrar dos prodigiosos momentos em que os abraços dos parentes sinceramente fingidos, moldados pela situação, os envolveram tão belamente, saturando mutuamente suas narinas com o excesso de perfume que só as tias mais exageradas têm o dom de usar, junto com seus 2kg a mais de maquilagem e bijuteria dourada. Algum Papai Noel, contratado ou da família, mais uma vez desfilou pelas chaminés, pagando o tributo à sua patrocinadora Coca-Cola. E em volta de uma árvore belamente morta e torturada com apetrechos e bugigangas, crianças sonharam com brinquedos e doces, adultos com carros e transas, e Jesus com um pouco de paz, se perguntando o porquê de até agora seu aniversário ser "comemorado" em 25 de dezembro, quando na verdade nem se sabe o dia em que ele nasceu. Mas logo ele se tranquiliza, pois ele próprio sabe que nasceu antes dele mesmo, por volta do ano -7. Cristo nasceu antes de Cristo. Portanto, um equívoco a mais ou a menos, não iria fazer muita diferença. Ninguém ao menos sequer sabe que o Natal é uma festa pagã, muito antiga, em homenagem ao Deus-Sol e seu "renascimento".
Por falar na Igreja, essa como sempre marcou seu território e ostentação com a Missa do Galo. Não esqueçamos também do playback gravado com todo lixo cultural brasileiro, e de outros ícones globais, como Roberto Carlos, Luan Santana e aquela moça que canta com as pernas - a tal de Ivete. Tudo mais batido que a maionese servida pelas mulheres, que certamente foram as designadas a prepararem a famigerada ceia, enquanto os homens cumpriram seu papel social machista de tomar uma cervejinha, conversando sobre os negócios e o futebol. E enquanto isso, milhares de mendigos observaram os carros ziguezagueando nas ruas, cheios de alegria e cerveja, passando batidos por eles em pleno espírito de comunhão natalina com o próximo. E, nessa noite feliz, certos pais choraram em silenciosa melancolia, por não poderem proporcionar um sorriso aos filhos, ambos vítimas de todo esse contexto. Talvez eles, com sorte, tenham conseguido algum emprego temporário nesse dezembro tão lindo, onde as empresas oferecem vagas para as pessoas serem exploradas por três meses, durante as festas natalinas, visto que a demanda de perus aumenta.
Ainda está lá, naquela gavetinha, a roupa toda branca do Réveillon. Costume esse africano e umbandista de se vestir de branco, que a católica e maçônica elite do Brazil utiliza nas suas pseudo-festas de fim de ano, todas previamente gravadas em clubes caros para passar na televisão no dia da "virada", que não vira nada a não ser o cronômetro imaginário nas nossas cabeças. É de certa forma curioso observar a sociedade paternalista cristã, cheia de etiquetas e bons costumes, criticar religiões africanas, e desprezar as culturas desse continente durante um ano inteiro, para, no final desse, contradizer-se numa festa de fim de ano reproduzindo ritos africanos.
As esperanças de se fazer tudo igual se renovaram, promessas foram feitas ao léu, e certamente serão cumpridas até o inicio do carnaval, quando muito. E pessoas muito maduras engoliram sementes, sorveram lentilhas e saltitaram ondas, esperançosas de acumular mais dinheiro no ano que nascia. Sem falar que nesse dezembro, como de praxe, automóveis e álcool combinaram muito bem, culminando em drásticas estatísticas de acidentes de trânsito, presenteando muitas crianças com a Morte. Alegria alegria! E Viva o Natal! Viva o Papai Noel e as luzinhas! Viva o domingo, a cachaça, a família, a putaria, a ignorância! E esperemos agora os confetes do carnaval, essa bela festa que retrata tão bem a nossa cultura no exterior!
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